do Reencantamento

Jovens e adultos, crianças e velhos de coração vivo, recusamos acreditar que a vida tenha que ser tão besta como nos tem sido apresentada. Um mundo em que todos têm que rosnar uns para os outros, e cumprir metas cinzentas, que ninguém sabe quem estabeleceu – nem a que levam.

Acontece que o suco da realidade está além do que pode ser reduzido a peso, medida, preço. Isso é só o esqueleto. Viramos um mundo de roedores de ossos. Queremos mais que isso. Podemos mais!

Salvar Galileu e queimar Giordano Bruno deu numa civilização manca. Mas nós não embarcamos na viagem dos céus vazios e silenciosos (Nietzsche). Assumimos nossa porção índia e suas lições, e estamos vendo que o Universo é inteligente, e que todos os seres se comunicam em existência e em sentido. Tudo tem alma, sentido, consciência, intenção. Tudo dialoga com o ser humano, se este quiser escutar.

Encantamento! Não, não falamos de simulacros, de sonhos enlatados disneyanos pintados em paredões sem vida, nem de telinhas fosforescentes numa vida-prisão. Falamos de consciência aguda do Momento e do Lugar. Você frente a frente com as coisas, cara a cara com a Vida. Vendo mundos em grãos de areia, e um céu numa flor do mato (William Blake).

Sábio é quem com tudo se espanta (André Gide). Gente como Goethe e Aristóteles via aí o princípio de toda Ciência; você acha bobagem? Olhos de criança ávida de conhecer o mundo! Todo Ser Humano é capaz de se encantar… e de em seguida reencantar o mundo. Com mãos de Amor.

É sério: só com profissionais encantados teremos mundo onde valha a pena viver. Não só os artistas e cientistas. Para o professor, é óbvio, essa é a primeira condição. Mas não basta: o DELÍRIO RESPONSÁVEL precisa chegar ao hardcore dos que fazem este mundo: engenheiros, advogados, administradores… Até que o sonho realize cidades menos irracionais, até que os funcionários dos três setores suicidem essa violência estéril chamada burocracia, até o último juiz enxergar que condicionar Justiça a “excelências” e “meritíssimos” é opressão indigna de subsistir num mundo digno de subsistir. Até que todas as relações humanas tenham rosto humano de novo.

Felicidade, sim!, como objetivo da sociedade! Economia, Desenvolvimento, Técnica, Poder como meios, jamais como razão das nossas escolhas. Servos da felicidade de todos os seres.

O que é preciso… é cultivar nosso jardim (Voltaire). Ser Humano e Natureza parceiros, mundo e vidas construídos como Arte. Dançar ao produzir… e dançar por dançar! Uma Ética nascida não de regras, mas da percepção do brilho nos olhos do outro. Humor, sempre – mas nunca sem Amor.

Mirantes em toda parte como investimento: afinal, sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura (Fernando Pessoa). A cidade está produzindo multidões sem visão – e a solução não está em “líderes sábios”, pois podemos ser um povo inteiro de sábios. Visão e maravilhamento para todos!!!

Não, não adianta disfarçar: jamais haverá encanto verdadeiro enquanto for privilégio de poucos!
Basta da falsidade do tal “princípio do proveito próprio” (Adam Smith), com sua mãozinha tão invisível quanto vendida, que construiu o inferno atual. Somente a ação altruísta é verdadeiramente humana! E diferente do engano oitocentista que ainda nos sufoca, a colaboração foi sempre mais decisiva para a evolução que a competição.

ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você do tiroteio: muros e grades jamais.

Sabemos como. Balas não voam sozinhas: seres humanos apertam gatilhos – porque seu olhar só aprendeu a ver monstros e carros reluzentes. Mas no meio do tiroteio colhemos flores – e plantamos. Contra a Cultura do Medo usamos a Magia da Verdade, e fazemos ver que nenhum ser humano é apenas monstro – nem dentro nem fora dos carros. Ainda no meio do caos recuperamos o poder de encantar-se com estrelas, botões de flores, botões de gente.

Devolver às mentes as imagens seqüestradas do Bom, do Belo, do Justo, do Verdadeiro. Não, não é babaquice: ao cinismo tratamos com sua própria receita: mandamos embora, pois nunca nos deu nada que valesse a pena. Que acima de tudo se devolva a cada Ser Humano o seu direito máximo: a chance verdadeira de desenvolver livremente seus potenciais. Sobretudo, é claro, no nível do SER, porém sem negar a justíssima, enquanto modesta, importância do Ter.

ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você e seus filhos do tiroteio: muros e grades jamais.

Sabemos como. Mas é preciso que uma parte dos seus carros novos seja convertida em recursos para o REENCANTAMENTO DA EDUCAÇÃO DE TODOS. Apóie este impulso e demonstraremos sua realização – no tempo que você quiser: um dia, dois anos, três décadas, uma civilização.

Começar a reencantar-se e a reencantar o Mundo: quem pode é VOCÊ.

bananeira

Este manifesto foi lançado mundialmente na Internet às 00 h do dia 01.12.2001, como parte da Campanha O REENCANTAMENTO DO MUNDO, lançada pela TRÓPIS em São Paulo às 21 h do mesmo dia com show da banda Provisório Permanente (contato tropis@tropis.org ).
(O presente texto é a  versão 3, de 02.2003)

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