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O DESAFIO DOS CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS

um manifesto a todas as Igrejas e a todas as pessoas
no advento do 3.º milênio do Cristianismo

Comunidade Cristã Gay de S.Paulo • Brasil
Janeiro de 1999

ÍNDICE

I. A questão e sua dimensão

II. Doença?

    II.a – Homossexualidade não é doença:
         o reconhecimento oficial

    II.b – Homossexualidade é variação
         normal e freqüente

    II.c – A homossexualidade é parte
inseparável da identidade pessoal

    II.d – Homossexuais “curados”
         nunca foram de fato homossexuais

III. Pecado?

    III.a – A tese da interdição bíblica: resposta

    III.b – A tese da opressão demoníaca: resposta

IV. O QUE AS IGREJAS SÃO CHAMADAS A FAZER

Algumas referências bibliográficas (com links)

A intenção é que este manifesto seja amplamente divulgado!
Se quiser, passe adiante assinando embaixo. Pedimos apenas que mantenha o nome da Comunidade Cristã Gay de São Paulo como primeira assinatura.

Ficaremos contentes se este manifesto for TRADUZIDO em outras línguas, a partir desta versão ou da inglesa, mas pedimos que o tradutor entre em contato conosco antes de qualquer divulgação (clique aqui). OBRIGADOS!

Click here for the ENGLISH version of the Manifest
Clique aqui para a versão em inglês

Observação para a 2.ª edição na internet (junho de 2008):

Devido a, entre outros fatores, a mudança para fora de São Paulo da maioria dos seus líderes, não existe mais o grupo que se identificava como Comunidade Cristã Gay de S.Paulo, e que elaborou este documento com vários meses de trabalho em 1998.

Como redator principal do documento, disponho-me com alegria a mantê-lo acessível através do site AmorYgual, que também ajudei a criar no mesmo ano de 1998 no bojo do movimento Trópis (ver www.tropis.org ).

Em São Paulo e em outras cidades do Brasil existem hoje diversos outros grupos LGBT cristãos, com diferentes estilos de teologia e de culto. Não estou estou ligado hoje a nenhum deles – porém meu trabalho principal, que é desenvolver e divulgar o Puralismo Radical ou Filosofia do Convívio (ver www.tropis.org/biblioteca e/ou www.pluralf.blogspot.com) continua sendo uma forma de lutar pelo espaço de tais grupos e pelo direito de todas as pessoas serem quem são, até o limite único que é a não-interferência no mesmo direito de nenhuma outra pessoa.

Neste momento em que grupos religiosos tradicionais pressionam o Senado brasileiro a rejeitar o Projeto de Lei Complementar PLC 122/2006, que representa o maior esforço legal já feito no país no sentido da proteção dos direitos de cada um ser como é, esperamos que este manifesto possa ajudar pessoas a entenderem que sua consciência religiosa deveria levá-las a apoiar o PLC 122, e não a combatê-lo!

Ralf Rickli, escritor e educador brasileiro

PS: Algumas estimativas estatísticas mencionadas no Manifesto podem estar em ligeiro desacordo com as opiniões atuais, mas isso não chega a fazer nenhuma diferença para os argumentos desenvovidos!

I. A questão e sua dimensão

Sabe-se que em todas as épocas e lugares têm existido homens e mulheres que se sentem atraídos amorosa e/ou sexualmente por pessoas de sexo igual ao seu – pessoas que, entre outras palavras, podem ser chamadas “homossexuais”.

Não se trata de uma minoria insignificante: neste momento os homens e mulheres homossexuais somam provavelmente mais de 400 milhões no mundo todo, e mesmo usando as estimativas mais conservadoras, não menos de 200 milhões.

Presentes no mundo há quase dois mil anos, as Igrejas cristãs têm via-de-regra considerado a homossexualidade um pecado, e mais recentemente uma doença sem deixar de ser pecado, enfrentando-a com uma das seguintes três atitudes:

  1. A expulsão dos homossexuais da comunidade eclesial, havendo às vezes perseguição ativa e punição, até mesmo com a morte (época da Inquisição);
  2. A tolerância oficiosa a pessoas homossexuais, inclusive em funções sacerdotais e outras posições hierárquicas, desde que isso nunca seja reconhecido ou comprovado publicamente, mantendo-se o discurso oficial de condenação incondicional;
  3. Mais recentemente, a busca de trazer os homossexuais para a Igreja desde que abandonem a homossexualidade, inclusive oferecendo-lhes programas de cura ou regeneração.

À parte a sugestão de alguns estudiosos de que a Igreja pode ter apoiado uniões homossexuais em algum momento da Idade Média, é apenas nas últimas décadas que surgem duas outras posições entre os cristãos:

  • Grupos cristãos que, embora majoritariamente heterossexuais, aceitam oficialmente pessoas com vida homossexual ativa, inclusive celebrando a bênção a parcerias homossexuais – como p.ex. alguns setores dos quakers norte-americanos;
  • Igrejas e comunidades cristãs criadas e dirigidas predominantemente por pessoas homossexuais, como p.ex. a Igrejas Metropolitanas surgidas nos Estados Unidos há algumas décadas, ou a Comunidade Cristã Gay de São Paulo, Brasil, que assina este documento.

Estas duas últimas atitudes, porém, têm sido ignoradas, quando não atacadas, pelas outras Igrejas, e ainda nem recebem menção nos livros de História do Cristianismo, como se se tratasse de uma questão desprezível, e não de uma que diz respeito a centenas de milhões de pessoas.

Em suma: as três primeiras posições, que deixam escolha apenas entre a intolerância e a hipocrisia, permanecem dominantes no Cristianismo mundial.

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II. Doença?

No entanto hoje, às vésperas do ano 2000 da assim chamada Era Cristã, as ciências – tanto as ciências biológicas quanto as humanas como a antropologia e a psicologia, e até mesmo as exatas, como a estatística – estão oferecendo uma compreensão tal da homossexualidade que obriga a questionar a validade ética e religiosa dessas posições dominantes.

Tal questionamento, como se concluirá do exposto a seguir, não interessa apenas aos homossexuais porém diz respeito a todos os cristãos, pondo em questão tudo o que o cristianismo será no próximo século e no próximo milênio.

Esta é portanto uma mensagem a todas as Igrejas, todos os cristãos, bem como a todos os seres humanos de qualquer crença ou religião.

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II.a – Homossexualidade não é doença: o reconhecimento oficial

Desde a década de 1970 as grandes instituições nacionais e mundiais da medicina e da psicologia foram, uma após a outra, excluindo a homossexualidade do rol das doenças e distúrbios, depois de perceber que não havia razões sustentáveis para tê-la nesse rol. (Organização Mundial de Saúde, revisão da Classificação Internacional das Doenças, CID-9, em 1985; CID-10 em 1995. Associação Americana de Psiquiatria, 1973; Associação Americana de Psicologia, Associação Americana de Medicina e Academia Americana de Pediatria em inúmeras ocasiões, etc).

Por definição, doença, enfermidade, moléstia ou distúrbio é algo que provoca dor, sofrimento, ou incapacita o indivíduo para funções necessárias ou desejadas. Qualquer análise séria e sem viés termina por concluir que a prática da homossexualidade em si não causa nenhuma dessas coisas:

  • existem males decorrentes de atividades sexuais inadequadas, como doenças sexualmente transmissíveis ou traumas por abuso sexual na infância, porém esses dizem tanto respeito à atividade heterossexual quanto à homossexual (na verdade ainda mais à heterossexual, por essa ser estatisticamente bem mais freqüente);
  • determinados sofrimentos psicológicos são usualmente encontrados entre homossexuais, inclusive um índice de suicídio juvenil três vezes superior ao dos heterossexuais, porém esses decorrem todos da rejeição social a que o homossexual se vê submetido, e não da homossexualidade em si.
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II.b – Homossexualidade é variação normal e freqüente

Portanto, a homossexualidade não é mais entendida como doença, e sim como uma variação normal dentro da humanidade – comparável, por exemplo, a ser canhoto, ou mesmo a uma cor de olhos menos comum, como a verde.

É fundamental entender que se trata de uma variação extremamente freqüente – mais freqüente, p.ex., do que ser canhoto, o que significa que a população homossexual mundial é gigantesca.

Estudos aprofundados encontram um amplo leque de variações sexuais, sendo extremamente difícil uma avaliação estatística dessas diferentes variações. Ainda assim, há um índice que parece sugerir bastante bem qual é a fração de qualquer população relativamente grande que pode ser estimada como homossexual, apesar de todas as diferenças culturais e raciais: 7% da população total, sendo 10% dos homens e 4% das mulheres.

Tomando-se esse índice, entenderemos que existem mais de 10 milhões de homossexuais no Brasil, mais de 17 milhões nos Estados Unidos, mais de 24 milhões de fala espanhola – e, enfim, cerca de 400 milhões de homens e mulheres homossexuais no mundo todo.

Mesmo se usássemos os índices mais conservadores disponíveis, os números estariam acima da metade dos que apresentamos, representando ainda assim uma fenomenal multidão – fato que não pode ser simplesmente ignorado pela religião.

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II.c – A homossexualidade é parte inseparável da identidade pessoal

Do testemunho das ciências, ainda é fundamental entender que se chegou a um consenso – não arbitrário mas conquistado duramente, muitas vezes a contragosto! – de que via-de-regra a homossexualidade não é uma opção do indivíduo, e sim uma condição intrínseca a ele – não menos que a cor da pele ou, mais uma vez, o fato de ser canhoto.

Não se pode comparar a homossexualidade, portanto, com algo como a prostituição, na qual, em que pesem todas as injunções sociais e da história pessoal, uma pessoa tem a possibilidade de entrar, permanecer ou sair, sem perda da sua identidade pessoal mais íntima. Já a orientação do desejo amoroso e sexual faz parte da identidade pessoal mais íntima – tanto segundo a psicologia quanto segundo os depoimentos mais honestos dos próprios homossexuais.

As pessoas realmente homossexuais sentem que jamais poderiam deixar de sê-lo sem mutilar gravemente sua própria essência; sentem que se deixassem de sê-lo deixariam de ser elas mesmas; estariam suprimindo a existência de uma pessoa até a sua raiz mais íntima – ou seja, estariam cometendo um “suicídio psicológico”.

É a isto que os movimentos religiosos de “cura” ou “regeneração” vêm convidando pessoas.

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II.d – Homossexuais “curados” nunca foram de fato homossexuais

Sem dúvida  relatos de pessoas que se sentiram “curadas” ou “libertas” da homossexualidade por esses movimentos. Além de serem estatisticamente insignificantes diante da população tratada, um estudo caso a caso revelaria que se trata de pessoas estruturalmente heterossexuais que, devido a abusos sexuais ou outras circunstâncias, haviam sido levados a uma vida de prática homossexual com a qual não se sentiam verdadeiramente identificados. – É compreensível que essas pessoas específicas relatem o processo como positivo, pois o reencontro consigo mesmo é sempre positivo.

Encontraríamos também casos de pessoas bissexuais, uma variação que permite que o desejo se direcione mais ou menos indiferentemente quer a um sexo quer ao outro, de modo que na “cura” tais pessoas apenas fizeram a opção de cultivar exclusivamente uma das frentes já presentes em sua personalidade.

As pessoas efetivamente homossexuais não podem porém ser mudadas. Podem sufocar ou suprimir seu desejo, mas não mudá-lo de fato. Existem hoje grupos e movimentos de “ex-ex-gays” que testificam de sua felicidade a partir do momento em que pararam de lutar contra si mesmos, e da profunda infelicidade dos que ainda lutam contra si mesmos nos movimentos de “cura”. – Note-se que em 11.12.1998 a diretoria da American Psychiatric Association aprovou por unanimidade uma declaração oficial de que as tentativas de “curar” a homossexualidade representam um perigo à saúde psicológica, enquanto que a homossexualidade em si não o representa.

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III. Pecado?

III.a – A tese da interdição bíblica: resposta

Porém não é apenas como “doença” que as Igrejas têm rechaçado a homossexualidade. Na verdade elas não o fariam, do mesmo modo como não ousam, hoje, rechaçar um portador de epilepsia, ou de câncer.

Elas rechaçam porque estão convencidas de que a homossexualidade é um pecado (o que as coloca naturalmente na posição paradoxal de considerar que uma doença, da qual o indivíduo é vítima, é ao mesmo tempo um pecado, do qual o mesmo indivíduo é culpado).

A base para considerar a homossexualidade um pecado consiste em seis passagens bíblicas, três do Velho Testamento e três do Novo, nem todas das quais podem ser ligadas com segurança à prática homossexual. Diversos autores têm buscado indicar o significado dessas rejeições ou interdições no seu próprio contexto histórico e cultural, mostrando que podem ser relativizadas do mesmo modo como outras interdições bíblicas hoje o são.

Com que base qualquer autoridade eclesiástica ou qualquer cristão pode declarar que podem ser relativizadas as prescrições quanto ao divórcio, contra o corte de cabelo das mulheres e o da barba entre os homens, contra o consumo de determinados animais, contra o trabalho no dia de descanso ou contra a cobrança de juros, sem falar do “não matarás”, e não podem ser relativizadas as que dizem respeito à homossexualidade? A própria Bíblia não aprova o uso de “dois pesos e duas medidas”.

Uma leitura ponderada da Bíblia, isto é, que leve em conta o número e a ênfase das menções aos diferentes erros ou pecados, nos faria ver que as prescrições contra a homossexualidade quase desaparecem diante da multidão das condenações ao trabalho no dia de descanso. No entanto, qual é o cristão moderno que se acha disposto a parar de comprar aos domingos (ou sábados, conforme o dia de descanso escolhido), ou a boicotar os estabelecimentos que não o respeitam? E qual o cristão que se encontra disposto a abrir mão do recebimento de juros, já que a Bíblia diz que até mesmo o pai de um filho que aceite receber juros morrerá por isso? (Ezequiel 18:10-13).

Ninguém, portanto, pode se sentir obrigado a cumprir uma parte da Bíblia por determinação de pessoas que não cumprem outras partes. Ou reconhecemos que todos (inclusive os homossexuais) podemos ser cristãos apesar desses descumprimentos, ou reconhecemos que nenhum de nós o é.  

O que fugir disso é injustiça e falsidade.     

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III.b – A tese da opressão demoníaca: resposta

Algumas Igrejas pentecostais, além disso, atribuem a homossexualidade a uma possessão ou opressão demoníaca, ou seja: a seres espirituais maléficos que invadem o indivíduo, e que podem portanto ser expulsos, deixando o indivíduo em um suposto “estado natural heterossexual.”

A imensa maioria dos depoimentos pessoais nega porém essa interpretação, pois em outros casos onde se pode falar de possessão a pessoa efetivamente sente que há uma vontade estranha dentro do seu ser, um mal que não pertence à sua essência.

Já no caso das pessoas realmente homossexuais, com freqüência o amor e desejo por outra pessoa do mesmo sexo são sentidos como vindo do ponto mais íntimo e profundo do ser, o mesmo ponto de onde vêm todas as sensações do mais alto, mais nobre e sublime, justamente o ponto onde a pessoa mais sente o gozo de ser ela mesma e a alegria de estar livre ou liberta.

A tentativa de expulsar o foco do sentimento homossexual é sentida como um ataque à própria essência da pessoa – e o momento em que ela aceita esse foco como bom e aceitável aos olhos de Deus é que é sentido como de libertação e intenso gozo espiritual.

Em todo mundo crescem os depoimentos de pessoas que buscaram a Deus durante anos e anos com esforços sinceros para transformar a sua homossexualidade, até que sentiram inequivocamente a Palavra viva do Senhor dizer-lhes em seu mais íntimo: “Eu te fiz assim porque Eu te quero assim. Tentar modificar-se é uma blasfêmia contra a perfeição da minha obra e uma rebelião contra minha vontade. Eu te fiz assim porque Eu te quero assim.”    

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IV. O que as igrejas são chamadas a fazer

Diante desses fatos, qual há de ser a atitude das Igrejas cristãs?

A Comunidade Cristã Gay de São Paulo reúne pessoas que muitas vezes se sentiram excluídas e desprezadas por sua natureza homossexual, mas têm convicção absoluta de que Deus, através de Jesus Cristo, não as exclui nem despreza enquanto homossexuais.

Essas pessoas sentem que Deus quer proclamar seu Amor através delas, chamando-as a, do próprio fundo da exclusão, criar em Nome de Jesus um espaço que não exclui a ninguém.

E conclamam todas as Igrejas a fazerem o mesmo, a partir de já.

Estamos seguros de poder afirmar que:

  1. Deus concede a cada pessoa a liberdade de, se quiser, se auto-excluir de Seu Amor pela sua forma de agir voluntária, porém proclama que Ele mesmo não deseja excluir a ninguém, e mais: que efetivamente não exclui a ninguém em razão do seu modo-de-ser.
  2. Cabe às Igrejas aceitarem dentro de si, do modo que são, todos os homens e mulheres homossexuais que desejem fazer um uso responsável e amoroso da sua sexualidade: aceitar aberta e oficialmente a esses homens e mulheres e a seus companheiros ou companheiras como parte honrada e digna do Corpo de Cristo.As Igrejas que não o fizerem estarão tentando excluir do Amor de Cristo não menos que 400.000.000 (quatrocentos milhões) de homens e mulheres simplesmente por serem como são, sem que isso tenha sida uma escolha voluntária; estarão portanto exercendo um papel de julgamento ou pré-julgamento que não foi delegado por Deus a nenhum ser humano.Tais Igrejas não estarão pecando menos gravemente que aquelas que rejeitarem alguma pessoa pela cor de sua pele. Não foi para rejeitá-los que Deus criou esses quatrocentos milhões de homens e mulheres que não mudarão sua orientação sexual – muitos dentre eles dos mais dedicados às obras de amor e bondade, e portadores em seus corações da mais legítima fé no Senhor.
  3.  Cabe às Igrejas orientar os seus fiéis para respeitarem a dignidade de todas as pessoas, na imensa variedade com que Deus as fez, incluindo aí expressamente o direito dos homossexuais de serem como são – com destaque para as crianças e jovens, tanto na posição de quem deve respeitar quanto na de quem deve ser respeitado.As Igrejas que não o fizerem estarão se fazendo coniventes com uma indescritível carga de sofrimento e opressão, cúmplices das violências psicológicas e muitas vezes físicas que são cometidas diariamente contra os homossexuais, até o assassinato, e envolvidas na culpa por um imenso número de suicídios de jovens que não conseguiram suportar a carga de desprezo e rejeição dirigida ao seu próprio ser.Estarão, enfim, dizendo como a multidão a Pilatos: “que o seu sangue caia sobre nós e os nossos filhos”.

Este manifesto não trata, portanto, do mero interesse de uma minoria, e sim de uma questão de não menos gravidade que as famosas teses de Lutero para a Cristandade inteira:

Os erros do passado podem ser creditados à conta da ignorância, e encarados sob o prisma do perdão; agora, porém, que a humanidade recebeu compreensão e consciência desses fatos, qualquer discriminação deixou de ser desculpável a qualquer título.

As Igrejas que se recusarem à aceitação plena dos homossexuais estarão se mostrando indignas do Amor e do Nome de Jesus Cristo, e não devem mais ter reconhecida nenhuma autoridade para falar em Seu Nome.

O verdadeiro Amor de Deus exige que nós seres humanos abramos mão do poder de excluir, que é arrogar-se o direito de julgar em Seu lugar quanto à salvação, e coloca esta questão como uma linha divisória na História da Cristandade no raiar do seu terceiro milênio. Quem tem ouvidos, ouça.

São Paulo, janeiro de 1999
Comunidade Cristã Gay de S.Paulo

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Algumas referências bibliográficas

  • Costa, Ronaldo Pamplona da. Depoimento no Congresso Nacional brasileiro. http://www.solar.com.br/~msuplicy/pamplona.htm
  • Costa, Ronaldo Pamplona da. Os Onze Sexos – As Múltiplas faces da sexualidade humana. S.Paulo, Ed.Gente.
  • Exexgay site. http://hometown.aol.com/exexgay/
  • Gide, André. Coridon. 1920.
  • Helminiak, Daniel A. O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade. S.Paulo, GLS, 1998.
  • Isay, Richard. Tornar-se gay. S.Paulo, GLS, 1998. (Original: Being homosexual. N.York, Avon Books, 1990).
  • Kinsey, Alfred. O comportamento sexual do homem. O comportamento sexual da mulher. 1948.
  • Picazio, Claudio. Diferentes desejos. S.Paulo, GLS, 1998.
  • Remafedi, Gary, org. Death by Denial. Studies of suicide in gay and lesbian teenagers. Boston, Alyson, 1994.
  • Shepherd, C. Ann. Homosexuality: common questions & statements addressed. http://209.1.224.11/WestHollywood/1348/
  • Spencer, Collin. Homossexualidade – uma história. Rio de Janeiro, Record, 1995.
  • Portugal Gay (site). http://www.portugalgay.pt/frames.html
  • Unks, Gerald, org. The gay teen. N.York, Routledge, 1995.
  • WAF – WeAreFamily (site). http://www.waf.org/

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