Ralf Rickli
Entre as dezenas de fontes que ajudaram a inspirar o trabalho
da Trópis ( www.tropis.org ) encontra-se a Antroposofia
(o que é? veja adiante).
Como é a relação entre elas (se existe) não é algo tão fácil de definir.
Pois as duas tem suas complexidades…
Estes 3 artigos olham por 3 diferentes ângulos e graus de profundidade:
de uma apresentação bastante light das duas
à discussão das condições para uma Ciência do Espiritual (é possível?)
passando por um olhar esotérico nada light sobre
o drama de viver & atuar HOJE e NO BRASIL.
Você pode escolher pelos títulos gerais e dos capítulos
qual artigo você quer visitar primeiro.
E esperamos que ache que vale a pena conversar mais conosco!
Use para isso o e-mail rr@tropis.org
Artigo 1 (informativo):
A TRÓPIS, SUA FILOSOFIA E A ANTROPOSOFIA EM UM RÁPIDO OLHAR
• existe relação? • mas não tem cara… • sete parágrafos de antroposofia • seis parágrafos sobre a filosofia do convívio e sua origem • o convívio da filosofia da convívio com a antroposofia
Artigo 2 (esotérico):
PREPARAÇÃO PARA A SEXTA ÉPOCA: A TRÓPIS COMO ESPAÇO DE
INVESTIGAÇÃO PRÁTICA DA LIBERDADE E DA COMPAIXÃO
• do que (não) trataremos • uma época de penúria de alma e sua transformação • a abordagem da trópis a isso • a sexta época e a radicalização da compaixão • o horror denegado por trás do brilho e o brasil como modelo negativo • o enfrentamento social da opressão arimânica • duas questões abertas
• destino, liberdade e necessidade
Artigo 3 (metodológico):
RELACIONANDO-SE COM A ANTROPOSOFIA COMO DISCURSO CIENTÍFICO
• espiritual é sinônimo de religioso? • características universais do discurso religioso • o discurso científico e sua condição fundamental • chegando à transcendência na fidelidade à própria essência • menos! (uma “carência negativa” dos nossos tempos) • para que um sonho não seja em vão
UM EPÍLOGO-APELO: a festa de Lady Anthroposophy e sua retribuição
Artigo 1 (informativo):
A Trópis, sua filosofia e a Antroposofia
em um rápido olhar
Ralf Rickli – fundador da Trópis. Tradutor de Rudolf Steiner,
ex-docente de Fundamentos Antroposóficos no IBD / Botucatu.
1.1 – EXISTE RELAÇÃO?
1.2 – MAS NÃO TEM CARA…
1.3 – SETE PARÁGRAFOS DE ANTROPOSOFIA
1.4 – SEIS PARÁGRAFOS SOBRE A FILOSOFIA DO CONVÍVIO E SUA ORIGEM
1.5 – O CONVÍVIO DA FILOSOFIA DA CONVÍVIO COM A ANTROPOSOFIA
1.1 – EXISTE RELAÇÃO?
Existe. Porém não é uma relação fechada, comum ou óbvia. Por isso, tanto para envolvidos como para não-envolvidos com a Antroposofia, é útil definir como é essa relação.
(Não dizemos ‘qual é’, pois isso pressupõe que exista um catálogo previamente definido de relações possíveis, e isso não é verdade: em todos os campos, as relações mais autênticas são sui generis – isto é: fundam seu próprio gênero).
1.2 – MAS NÃO TEM CARA…
Iniciativas de inspiração antroposófica existem hoje em todo o mundo. Quem já visitou algumas costuma reconhecer determinadas marcas de estilo – da decoração ao modo de falar e de fazer as coisas.
Quem chega na Trópis pode muitas vezes identificar uma ‘cara de 1968’ (que afirmamos ser espontânea, não planejada), mas dificilmente encontra ‘marcas antroposóficas’. Por isso, ou não suspeitam que existe relação, ou podem chegar a questionar: ‘mas essa não é A forma Waldorf de fazer as coisas!’ (Waldorf é um sistema pedagógico de inspiração antroposófica).
A razão é dupla: (1) Nas iniciativas antroposóficas, o predomínio de certo estilo é espontâneo e compreensível, porém de nenhum modo obrigatório. (2) Na formação do ‘rio Trópis’ convergem dezenas de fontes significativas, entre elas a antroposófica – que é de grande importância, porém não substitui ou dispensa nenhuma outra. Sendo muito ampla em si mesmo, alguns imaginam que sua participação numa iniciativa devesse ser zero ou 100% – mas isso é um mal-entendido. Na verdade, tanto a obrigatoriedade quanto o exclusivismo são incompatíveis com os princípios mais profundos da própria Antroposofia.
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1.3 – SETE PARÁGRAFOS DE ANTROPOSOFIA
Antroposofia é uma escola de pensamento e ação iniciada pelo pensador Rudolf Steiner, que viveu de 1861 a 1925, na Áustria, Alemanha e Suíça. A maior parte dos elementos presentes na Antroposofia não são exclusivos dela, porém estão organizados e apresentados de forma fortemente original, tendo em vista o que Steiner aponta como necessidades próprias dos tempos modernos.
Steiner deixou 46 volumes de escritos e mais de 300 de transcrições de palestras – a maior obra de um só autor já publicada. Trata-se de uma imensa síntese onde estão presentes, entre outros, o conhecimento científico moderno, a Filosofia desde Pitágoras e Aristóteles até o idealismo alemão, tradições esotéricas como a hindu-teosófica, a gnóstica, a nórdica e a cristã-rosacruz – além de contribuições totalmente originais.
Longe de ser apenas ‘pensamento puro’, a obra de Steiner propõe caminhos para a pedagogia, a medicina e farmacologia, a agricultura, as diversas artes incluindo a arquitetura e o teatro, a religião, a organização social, a economia… No entanto costuma ser muito estranha para a consciência atual a combinação de detalhamento técnico (como na economia, fisiologia ou em cálculos arquitetônicos) com exposições sobre reencarnação e carma, percepções diretas de seres e mundos espirituais etc.
Para nossos fins queremos apontar três aspectos do pensamento antroposófico:
(a) Conhecimento: na nossa época o ser humano é chamado a se relacionar com os planos espirituais não mais mediante crença, e sim com objetividade científica, desenvolvendo pouco a pouco uma efetiva Ciência do Espiritual;
(b) Liberdade e evolução: todo indivíduo humano é destinado à liberdade, a qual porém só é possível e real quando construída a partir do pensamento (que é em si real!); ao atuar criativamente entre os diversos campos da realidade, o indivíduo humano é agente da evolução de si mesmo e do mundo;
(i) Responsabilidade cósmica: embora a criatividade opere de modo diferente através de cada indivíduo, sua aplicação deve sempre visar o benefício do todo (social, ambiental, universal); o ser humano tem a liberdade e o poder de direcioná-la para seu próprio benefício (ou de seu grupo como separado e oposto ao todo), porém com isso se torna responsável pela fragmentação e necrose (processo de morte) da realidade.
Desde a década de 1910 se desenvolveram inúmeras escolas de trabalho prático fundadas diretamente com a participação de Rudolf Steiner, ou por estudiosos da sua obra. As mais conhecidas são provavelmente as Escolas Waldorf, a Agricultura Biodinâmica e a Medicina Antroposófica. É importante notar, porém, que não há razão para supor que essas escolas consolidadas ao longo do século XX sejam os únicos frutos possíveis de uma proposta tão vasta, ou mesmo que já tenham alcançado formas definitivas.
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1.4 – SEIS PARÁGRAFOS SOBRE A FILOSOFIA DO CONVÍVIO E SUA ORIGEM
Os princípios centrais a partir dos quais – e pelos quais – a Trópis trabalha permitem mas não exigem a aceitação integral do corpus antroposófico. Mais: trabalham para que haja espaço permanente na sociedade para idéias assim – porém também para outras, com a condição de que cada uma delas seja exposta mas jamais imposta, e sobretudo jamais tente suprimir a outra.
Ou seja: é um sistema que se preocupa com a garantia do espaço para todas as idéias (noodiversidade ou ideodiversidade, análoga à biodiversidade), e não com o seu conteúdo, deixando-o inteiramente ao campo da escolha individual – vedando unicamente o cultivo de conteúdos que visem a suprimir ou reduzir o espaço de outros. Identificamos isso como prioritário, pois haverá tempo e condições para um posicionamento livre frente a qualquer outro tema apenas se este princípio for implantado primeiro.
Este princípio está implícito em vários pontos da obra de Steiner, não porém como ponto central ou de maior ênfase. Além disso, sua presença aí não o faz necessariamente vinculado às demais partes dessa obra: por sua própria natureza trata-se de um princípio que pode se fazer presente em qualquer sistema, mas jamais ficar atrelado a nenhum deles.
Naturalmente esse princípio não é invenção nem exclusividade da Trópis – porém é usado aqui na forma de uma sistematização original realizada por Ralf Rickli, um dos nossos fundadores. Nós o chamamos de Princípio do Pluralismo Sistemático, entendendo-o como o ‘braço’ ético-prático do Paradigma do Convívio Universal – que, ao lado da Pedagogia do Convívio (ou Educação Convivial) e dos princípios do Minimalismo e da Requalificação da Linguagem, integra o que chamamos de Filosofia do Convívio.
O fato de que até hoje somente fragmentos dessa elaboração filosófica tenham sido impressos não significa que seja coisa recente: desde os anos 80 ela tem sido apresentada oralmente, e desde os 90 exposta de forma concreta nos trabalhos da Trópis.
Não cabe aqui uma apresentação detalhada nem desses trabalhos nem dos princípios, pois isso requer vários ensaios de fôlego. Sobre os trabalhos já há considerável material impresso e na Internet (em www.tropis.org ), e é nossa intenção publicar mais sobre a Filosofia do Convívio ainda em 2003.
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1.5 – O CONVÍVIO DA FILOSOFIA DO CONVÍVIO COM A ANTROPOSOFIA
Ralf Rickli começou a sistematizar a Filosofia do Convívio em 1970, ainda na adolescência. Em 1978 foi apresentado à obra de Rudolf Steiner, interessando-se sobretudo por reconhecer nela a presença desse mesmo impulso filosófico. Buscando aprofundamento, passou três anos em instituições antroposóficas de educação adulta (Emerson College, Inglaterra e Institut Annener Berg, Alemanha), e trabalhou quase toda a década de 80 no movimento brasileiro de Agricultura Biodinâmica, financiado para isso pela ABT (Associação Beneficente Tobias, de São Paulo), de inspiração antroposófica.
A partir de 1992, com a concentração nos trabalhos que vieram a formar a Trópis, manteve uma relação um pouco mais distante com a maioria das instituições antroposóficas, porém ainda atuando com freqüência como tradutor de palestras e de livros de Rudolf Steiner. Além disso, diversos membros da comunidade antroposófica de São Paulo têm contribuído para a manutenção das atividades da Trópis, e desde 2001 a ABT passou a lhe dar significativo apoio regular, e isso de modo absolutamente coerente com os princípios mais profundos da Antroposofia – ou seja: respeitando as características próprias da iniciativa.
A Trópis reconhece, portanto, ter recebido da Antroposofia grandes contribuições de método e de conteúdo na elaboração do seu pequeno sistema – pequeno diante dela como um aglomerado globular diante de uma galáxia – porém intencionalmente pequeno, pois sua funcionalidade reside justamente nisso, em servir em qualquer lugar.
Ao mesmo tempo não sente necessidade de se rotular como uma iniciativa antroposófica – pois deve permanecer aberta ao serviço de todos, inclusive da Antroposofia, a partir de suas características específicas. Afinal, é parte da essência do nosso sistema que todos, sem exceção, devam cultivar seus diferenciais – não como elemento de conflito, mas justamente para ter com o que contribuir.