Artigo 3 (metodológico):
Relacionando-se com a Antroposofia
como Discurso Científico
RALF RICKLI – fundador da TRÓPIS. Tradutor de Rudolf Steiner,
ex-docente de Fundamentos Antroposóficos no IBD / Botucatu.
— – Epígrafe (R. Steiner) e introdução
3.1 – ESPIRITUAL É SINÔNIMO DE RELIGIOSO?
3.2 – CARACTERÍSTICAS UNIVERSAIS DO DISCURSO RELIGIOSO
3.3 – O DISCURSO CIENTÍFICO E SUA CONDIÇÃO FUNDAMENTAL
3.4 – CHEGANDO À TRANSCENDÊNCIA NA FIDELIDADE À PRÓPRIA ESSÊNCIA
3.5 – MENOS! (UMA “CARÊNCIA NEGATIVA” DOS NOSSOS TEMPOS)
3.6 – PARA QUE UM SONHO NÃO SEJA EM VÃO
Não quero dizer, de modo algum, que hoje eu já esteja apto a expor com precisão o que se revela na escrita espiritual; pois eu mesmo sinto ser trabalhoso e difícil obter, na Crônica do Akasha, as imagens que se referem ao cristianismo. Tenho dificuldade em levar essas imagens à condensação necessária, em conseguir captá-las. De certo modo, encaro como meu carma ter recebido a incumbência de revelar o que estou expondo.
(Rudolf STEINER, O Quinto Evangelho [GA 14], cap.2)
Começamos deixando claro que não vemos as palavras acima como evidência de alguma falta de qualidade na obra de Rudolf Steiner. Ao contrário, consideramos que elevam sua qualidade e relevância – pois são as palavras desse teor que apóiam, mais do que quaisquer outras, a afirmação do autor de que sua obra tem caráter científico, apesar de debruçar-se sobre campos que as ciências de hoje costumam desdenhar.
Tentaremos a seguir trazer um pouco mais de corpo a esta afirmação, sugerindo com isso alguns ângulos de visão que podem ser úteis ao aprofundamento do tema.
3.1 – ESPIRITUAL É SINÔNIMO DE RELIGIOSO?
Em sua obra, Rudolf Steiner nunca pára de enfatizar que propõe a Antroposofia como ciência espiritual e do espiritual (Geisteswissenschaft), e portanto não como revelação no sentido que essa palavra tem tradicionalmente nos sistemas religiosos. O uso do verbo “revelar” no trecho em epígrafe não contradiz o que estamos dizendo, justamente porque as palavras anteriores relativizam essa revelação, afirmando seu caráter provisório ou de tentativa, enquanto que a principal característica dos sistemas religiosos é atribuírem caráter absoluto à revelação.
O que nem sempre é evidente é que, ao centrar sua obra na palavra Geist, o autor se coloca intencionalmente no ponto de encontro de duas vias: uma que usa Geist no sentido de ‘mente, pensamento’ (grego nous), como se vê no uso de Geisteskrankheit para ‘doença mental’ e Geisteswissenschäfte para ‘ciências humanas’, e nem sonha em questionar a respeitabilidade acadêmica de Hegel por sua Fenomenologia do Espírito (des Geistes).
Na outra via, Geist traduz o grego pneuma (que, como o latim spiritus, significa literalmente sopro, hálito, vento) e costuma ter a ver com seres e fenômenos considerados modernamente como do campo da religião ou da crendice: o Espírito Santo (Pneuma Háguion), espíritos dos mortos ou da natureza, videntes e curadores espirituais (conhecidos na Grécia como pnevmáticois – os que tem ‘o sopro’) etc.
Enquanto quase todos dão por certo que essas duas vias apenas se cruzam casualmente num significante (Geist) compartilhado por dois significados (nous, pneuma), para Steiner essas duas vias são na verdade uma só, a qual apenas está ou estava dividida artificialmente por um tapume, e em sua Geisteswissenschaft desenvolve resolutamente um discurso em que Hegel convive com mistérios iniciáticos, a vidência com teses sobre Teoria do Conhecimento, cálculos de engenharia com arcanjos e querubins – estudados não como elementos de crenças do passado, mas como fatos objetivos e reais, e isso na virada dos séculos XIX-XX (pelo menos em termos de intenções declaradas a postura de Giordano Bruno era bastante parecida, porém isso foi 300 anos antes – e a postura parecia ter sido levada à fogueira com ele).
É profundamente arraigada, porém, a idéia de que tudo o que tem a ver com o espírito-pneuma faça parte exclusivamente do campo da crença e da religião, onde não é encontrado pelo esforço racional mas se dá a conhecer como revelação – e por isso, por mais que Rudolf Steiner declare e repita que sua obra tem caráter científico, tendemos a nos postar diante dela como frente a um discurso revelatório no sentido religioso, e ao nos decidirmos por tomá-la a sério, com freqüência passamos a nos relacionar com ela com uma atitude religiosa, e não científica.
Cremos, porém, que só estaremos fazendo justiça ao monumental esforço de Steiner se seguirmos sua própria indicação: a de tratarmos a Antroposofia como ciência. E para isso precisamos fortalecer a clareza sobre o que distingue o discurso científico do discurso religioso.
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3.2 – CARACTERÍSTICAS UNIVERSAIS DO DISCURSO RELIGIOSO
Em todos os sistemas e culturas, o discurso religioso se oferece como fim de todas as buscas; como resposta pré-existente e suficiente para tudo que puder vir a ser perguntado (‘… é o mesmo ontem, hoje e sempre’).
Portanto, não faz parte do jogo tentar ultrapassar o discurso revelatório no qual se funda; todas as elaborações teológicas visam a confirmar o discurso fundador – quem sabe detalhando-o para casos específicos, ou gerando novos modos de entendê-lo; nunca porém novos modos de entender a realidade, mas apenas de entender o discurso, já que esse é visto como mais fundamental, mais sólido e concreto que a realidade (‘céu e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão’).
Assim, todas as explicações devem ser buscadas primeiro no discurso fundador, jamais diretamente na realidade. Se há desacordo entre os dois, a única possibilidade é que a realidade esteja errada: o discurso é por definição perfeito. Tampouco faz parte dos objetivos dos estudos teológicos elaborar alguma versão substitutiva aperfeiçoada do discurso fundador: ele já está pronto.
O discurso religioso nos diz ainda, sempre, que somos privilegiados por termos nascido depois da revelação, pois antes as pessoas vagavam na escuridão – mas um dia, já passado, a luz chegou – e como se inveja o privilégio haver estado pessoalmente no momento da revelação, nesse momento infinitamente superior e mais belo que o nosso!, que se situa sempre em algum lugar do passado. Pois a luz já veio – seja há 100, 2000 ou 5000 anos. Se ainda não vemos bem, a deficiência é dos nossos olhos, ou então é que não olhamos bem na direção certa (que é sempre a do passado: é preciso estudar hebraico, sânscrito, rúnico para entender melhor!).
E mais: quando a luz se manifestou foi de uma vez por todas, explicando todo o resto da eternidade: se houver novas manifestações, serão apenas as já previstas no momento da Grande Revelação.Todo o futuro, tudo a que possamos aspirar ou almejar, para nossa pessoa ou para a humanidade, já está totalmente determinado: tudo está contido no discurso fundador.
É importante observar: (1) Não fizemos uma caricatura. Descrevemos com toda sobriedade como o discurso religioso de fato é; (2) Não estamos dizendo que elementos contidos nos discursos religiosos não possam ser verdadeiros, nem que devam ser desprezados pelo conhecimento científico; estamos falando da atitude usada no trato com esses elementos; (3) Tampouco estamos afirmando que não haja nenhum lugar para a atitude religiosa: se há esse lugar, e qual seria, é outra discussão, que escapa aos objetivos deste artigo.
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3.3 – O DISCURSO CIENTÍFICO E SUA CONDIÇÃO FUNDAMENTAL
É evidente que, ao chamar seu sistema de ciência, Rudolf Steiner o queria intencionalmente colocar sob outro estatuto. E qual é o estatuto da ciência?
O discurso científico sabe jamais ser a resposta final; ao contrário, se oferece sempre como ponto de partida, é sempre um convite para ir além.
Aliás, corresponde ainda melhor à imagem de platôs ou patamares numa infinita escalada: são vislumbrados de antemão por quem olha para frente, são ardentemente desejados como meta provisória, espaço para firmar os pés e ganhar forças… para retomar a escalada na direção sempre de um novo patamar. A ciência está sempre de olhos no futuro – no que ainda não foi respondido, e mais: no que ainda pode haver por perguntar.
Tanto é assim, que o filósofo Karl Popper (1902-1994) demonstrou, de modo absolutamente convincente (isto é, não se pode dizer que é ‘apenas uma opinião’) que uma afirmação só pertence à ciência se for passível de contestação: a ciência progride tentando demonstrar que determinada proposta estava errada, ou não era suficiente; como resultado, pode ser que essa proposta tenha que ser (1) inteiramente substituída por uma proposta nova; (2) que sofra grandes modificações; (3) que saia apenas ligeiramente retificada ou reajustada, ou (4) que resista por séculos a todas as contestações. Porém só será parte da ciência enquanto estiver exposta às ondas, oferecendo-se às contestações.
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3.4 – CHEGANDO À TRANSCENDÊNCIA NA FIDELIDADE À PRÓPRIA ESSÊNCIA
Fazer ciência de verdade é, portanto, uma atitude de altruísmo: importa mesmo é a verdade, não o que eu propus. E quem está de fato envolvido com saber jamais ignora que a realidade não pára de fluir e de se transformar – e que portanto a verdade não poderá estar jamais em forma definitiva dentro de nenhuma palavra pronunciada em algum momento… que já em seguida é passado.
Fazer ciência é sempre oferecer ao mundo uma possibilidade – sabendo que o mundo terá que, por definição, tentar demonstrar por quê ela não serve, ou servir-se dela como base para ir além.
Nesse sentido ciência é sempre sacrifício, ou sagrado-fazer – e é sacrifício propiciatório para o futuro. Um sacrifício a ser renovado a cada colheita. E ai de quem colher e não sacrificar: todos os seus esforços permanecerão estéreis!
Por isso aquele que descobre um novo ângulo, uma nova proposta, um novo insight não tem sequer o direito de guardá-lo para si, ainda que a pretexto de respeito ao passado, ou de respeito a quem inspirou o seu olhar: tem o dever de oferecê-lo ao mundo, mesmo sabendo que cedo ou tarde terá também de ser contestado (isso se o mundo chegar a perceber o que recebeu!).
Esse é o verdadeiro ato de respeito neste campo: se sua nova proposta não superar a de quem o inspirou, esse terá sido homenageado; se superar, também, por ter sido quem ofereceu o estímulo ou ponto-de-partida para mais um passo para a humanidade.
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3.5 – MENOS! (UMA “CARÊNCIA NEGATIVA” DOS NOSSOS TEMPOS)
Especificamente em relação à obra de Rudolf Steiner, existe ainda uma razão aparentemente prosaica para tratá-la com atitude científica, e não religiosa: o volume da obra: são 27 livros propriamente ditos… mas, com as coletâneas de artigos, papéis, obras artísticas e transcrições de estenogramas de palestras, atinge cerca de 370 volumes. Se uma pessoa pudesse ler um volume de Steiner por mês, continuamente, levaria cerca de 30 anos para ler toda a obra!
À parte o fato de que dificilmente esse pareça ser um método saudável de chegar à sabedoria ou a um desenvolvimento humano pleno, isso simplesmente não é exeqüível para a quase-totalidade das pessoas, que ficará sempre tendo conhecimento de um ou de outro bloco dessa obra, maior ou menor, porém sempre diferente. Trate-se a obra como discurso fundador religioso, e estará posto o cenário para duas coisas: (1) lutas pessoais permanentes (diferentes de debates científicos) sobre ‘a compreensão correta de Rudolf Steiner’; (2) a formação de uma espécie de clero constituído de leitores profissionais da obra.
É verdade que isso não é novidade, acontece em todas as religiões – porém justamente isso é grave: que não seja novidade! Nos termos da própria obra, seria uma amplificação, em plena Quinta Época, da forma de vida espiritual predominante na Quarta Época – em nada parecida com a vida espiritual livre que o autor demonstrou ser a resposta legítima à ‘penúria de alma dos nossos tempos’ (na Palestra IV do GA 168 e em incontáveis outras ocasiões). Amplificação porque o que acontece com as demais religiões seria potencializado pelo tamanho e pela profundidade da obra: conjugada com conteúdos que nunca antes atingiram tão fundo, a forma inadequada provocaria efeitos opressivos sutilizados, destrutivos por dentro, na vida espiritual do indivíduo e da sociedade, em uma dimensão jamais vista na História: corruptio optimi pessima – quanto melhor uma coisa, tão mais terrível se torna caso se corrompa.
Deixando tal cenário de ficção científica (ou religiosa?), precisamente no momento atual a Antroposofia deixa de responder às necessidades mais prementes caso a ‘tentação religiosificante’ nos faça tratar a obra de Steiner como um bloco monolítico, do qual se deve tomar tudo ou nada. Acontece que em fins do século XX o excesso de informações de todo tipo à disposição da humanidade se tornou um grave problema para a educação e mesmo para a ciência. Como orientar-se nesse mar de conhecimentos que nenhum indivíduo chega jamais a ver em conjunto?
Aqui temos uma ironia: por haver reelaborado no contexto da virada de séculos XIX-XX o poderosíssimo tino de Goethe para a identificação de padrões subjacentes à realidade viva, a Antroposofia contém em si elementos poderosos para enfrentar esta situação. Porém (1) não são todos os seus elementos que cabem na hora de responder a essa questão específica; (2) muito menos é um corpus de 370 volumes tomados necessariamente em conjunto o que pode colaborar neste momento de sufocamento pelo excesso!
Mas principalmente: (3) mesmo os elementos que são adequados para isso, não o são do modo mais adequado na forma em que se encontram dentro desse corpus, excessivamente envolvidos com exemplos e respostas específicas a questões intelectuais da sua época, cuja discussão hoje soa muitas vezes bizantina. É preciso que pessoas de agora, profundamente embebidas com as questões que o mundo efetivamente coloca agora (não com as que às vezes ‘pomos em sua boca’!), reelaborem dentro de si Steiner como este reelaborou Goethe, até encontrar os princípios, a estrutura mínima, o diamante da engrenagem do relógio (ou, para deixar mais atual a imagem, que serve de processador ao sistema…). Em lugar de se adaptarem formas geradas em outro contexto histórico – prática que, seja em que sistema for empregada, carrega uma longa tradição de desastres – o espírito (diamante, princípio em sua forma mínima) precisa gerar novas formas no contato com o material próprio da época em que vai se encarnar.
Já esta explanação surge pela aplicação de princípios contidos no discurso de Steiner… a esse mesmo discurso! O mesmo processo pode ser reaplicado aos primeiros resultados obtidos, de novo e de novo, até chegar-se a estruturas mínimas, sempre ‘objetos pensamentais’ poderosos com capacidades surpreendentes – que fazem pensar p.ex. em anéis de Moebius feitos em diamante e com utilidade prática…
O que não sabíamos, ao irmos experimentando fazer isso, é que estávamos fazendo com simplicidade, ‘na cozinha’, o mesmo gesto com que, dentro de linguagens altamente especializadas, cientistas vinham realizando as conquistas teóricas mais importantes para a compreensão da natureza na segunda metade do século XX: a repetição cíclica de um processo sobre si mesmo, dobramentos da textura matemática do real, iterações…
O que nos leva de novo a pensar que o ‘ar’ dos tempos continua fazendo sugestões inteligentes… e que as registradas em algum ponto do passado nunca foram e nunca serão as últimas!
A propósito, o que expusemos é uma das muitas formas de caracterizar o que na Filosofia e Pedagogia do Convívio chamamos de Minimalismo, e que é um dos princípios que, por fidelidade a ele mesmo nesta época de excesso, nos empenhamos em não deixar que ultrapassem o número de três!
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3.6 – PARA QUE UM SONHO NÃO SEJA EM VÃO
Para terminar, sugerimos algumas qualidades e palavras-chave que nos parecem úteis no esforço de garantir que a Antroposofia continue se desenvolvendo como discurso científico. São notas bastante soltas, que com certeza podem ser grandemente aperfeiçoadas e complementadas por outras visões:
· Multiplicidade dos esforços: não existe ciência de um cientista só. Para que Antroposofia não seja sinônimo de ‘obra de Rudolf Steiner’ e sim de ‘ciência espiritual’, como ele mesmo a definia, é indispensável que outros estejam permanentemente se esforçando no encalço de novas realizações dessa ciência.
· Caráter não-absoluto, não-definitivo: como vimos, nada pode ser considerado definitivo em ciência. Não estamos mais na Quarta Época, em que Roma locuta, causa finita (‘Roma falou, a questão acabou’). Proposições de Rudolf Steiner, ou de qualquer outro autor, podem ser postas em dúvida sim, a qualquer tempo – ou então não estamos falando de ciência. Porém devemos saber explicar por quê estamos questionando – e não esquecer que tampouco a nossa proposta será definitiva!
· Não-exclusividade: não por estar dialogando com uma obra tão portentosa uma pessoa de saber tem o direito de dialogar exclusivamente com ela, sem levar em conta outras fontes; já Agostinho dizia ter medo de homens de um livro só, e conhecer ou basear-se em um autor só é a mesma coisa, ainda que esse autor seja Rudolf Steiner. A escolha dessas fontes é de liberdade absoluta do autor que está criando, não importa se Rudolf Steiner as via com simpatia ou antipatia; eram razões dele; o novo autor tem que ter suas próprias razões. Mas tem também que ser capaz de justificá-las…
· Caráter não-monolítico: a exigência de que se aceite ou 100% ou zero da obra (de qualquer autor) não tem nada a ver com ciência. A relação também não precisa ser ‘enciclopédica’, ou seja: não deve ser preciso conhecer tudo o que Rudolf Steiner disse sobre um assunto para poder usar uma de suas proposições; é preciso que haja coerência interna na obra que está sendo criada, não necessariamente com o resto da obra de Steiner: a obra que está sendo criada é do autor que está criando; afinal, Steiner já teve a oportunidade deixar seus 370 volumes!
· Caráter criativo: apenas apresentar em novas palavras ou em nova ordem as visões já apresentadas por Rudolf Steiner não é fazer ciência: é fazer literatura didática ou de divulgação científica. Há casos em que isso pode ser de grande valor, porém deveríamos ser autocríticos quando à real utilidade de sua publicação, para não estarmos apenas acrescentando palavras supérfluas ao já generalizado excesso. Mais importante porém é fazer ciência, e só é ciência-mesmo aquilo que acrescenta um passo novo: explora e propõe com coragem algo que ele não disse, um procedimento de método que ele não usou – ou, no mínimo, ao reafirmar algo que ele tenha dito, aponta nexos que ele não apontou ou faz demonstrações que ele não fez.
· Liberdade, mas não leviandade! Busca séria de consistência, de qualidade intelectual. Proceder sem isso seria, sim, um desrespeito. A Rudolf Steiner e a si mesmo.
É importante notar que sequer invocamos aqui critérios de cientificidade usuais mas que nos parecem na verdade menos centrais (como experimentos controlados), pois sabemos estar falando de uma ciência espiritual, e não desconsideramos suas especificidades, sobretudo a de ter como principal ‘instrumento’ o pensar desenvolvido até a qualidade de órgão de percepção.
Enfim: fazer ciência tendo ao lado um tamanho legado será sempre um desafio. Será sempre um esforço não sucumbirmos à tentação da atitude religiosa frente à monumentalidade do legado, e sim mantermos com coragem nossa inteira liberdade em sua presença. A isso deve nos ajudar o pensamento de que tal atitude jamais seria um desrespeito justo a quem a recomendou!
Pois o mais efetivo respeito, reconhecimento e homenagem a Rudolf Steiner está justamente em tentar permanentemente descobrir passos novos, inéditos, quer de conhecimento quer de prática, que se possa dar partindo de pontos presentes na sua obra. Pois assim, e somente assim, estaremos dando garantia de que seu sonho não tenha sido em vão: ter deixado na Terra uma Ciência do Espiritual.
Com especial reconhecimento e admiração
pelo gênio ainda não ultrapassado
de Nicolau de Cusa (1401-1464)
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